
Beatriz Frias
Em alguns momentos, parece que estou vivendo em outra realidade. Ou até mesmo, que estou em um filme. Sonhos estranhos vem e vão, durante as noites. Os dias e as horas se confundem. Mesmo adotando o mesmo horário para ir dormir e para despertar, acabo perdendo a referência do tempo…
Buscamos incessantemente preencher um vazio, que na verdade nunca será preenchido. E nunca nem foi. Mas será, então, que na verdade, antes é que vivíamos em uma ilusão? Será que, a partir de agora, não é que estamos entrando efetivamente na realidade, que ‘deveríamos’ estar? Ou melhor, a qual estávamos evitando encarar e, neste momento, ela nos ‘vêm à tona’?
Nem fugir, nem desesperar. A ordem do momento é: encarar os fatos. Buscar alternativas; mas, antes, buscar a si mesmo. Até mesmo porque, se não tivermos uma revolução interna, nunca conseguiremos mudar o externo. A verdadeira mudança acontece de dentro para fora.
Portanto, de nada adianta o apavoramento, muito menos a negação. Para sermos úteis agora, no médio e, principalmente, no longo prazo, precisamos, antes de mais nada, ter saúde. Saúde física, mental e emocional.
Como muitos ainda acreditam, a crise não acabará, nem começou por conta da quarentena. Estamos vivendo na 3ª Guerra Mundial, a guerra biológica. E, sinto-lhe informar, mas estamos somente no começo dela. Portanto, quem conseguir mudar mais rápido, sobrevive. Certo? Nem tanto. De nada adianta mudarmos todos os processos externos, se os nossos processos internos falharem. Não brinquemos de salvar o mundo, primeiro precisamos salvar a nós mesmos como seres humanos.
Agora é momento de rever conceitos, de mudar hábitos. Sabe aquela mudança que não saía do papel? Sabe aquela decisão que você não conseguia tomar? Parece que agora, a solução vem em um instante, como em um passe de mágica. Sabe por quê? Pois, não temos mais nada a temer, não temos mais tempo para ter medo do novo. Porque o novo está aqui, diante dos nossos olhos. De uma forma ou de outra. Você querendo ou não. Você decidindo ou se omitindo.
Até mesmo porque, como afirmou a empresária Luiza Trajano em sua excelente entrevista para a StarSe, “A normalidade que era dois meses atrás, não vai voltar. Essa é a única coisa que eu tenho certeza. Estão esperando abrir para voltar à normalidade. Não vai voltar! Nós vamos ter uma nova realidade!“
Sabe aquela programação e certa ‘segurança’ que tínhamos, quando íamos pelo caminho ‘certo’? Ela se foi. Nada mais é ‘certo’. Não existe protocolo ‘certo’ para o novo vírus. Não existe sintoma ‘certo’. Se dissermos, por exemplo, que certas pessoas têm maior probabilidade de contrair o Covid, pode até ser. Mas, a verdade é que hoje ainda não existe mais um padrão, nem sequer para os sintomas. Assim como na maioria das pessoas, ele pode atacar os pulmões; em outras, diferentes órgãos são agredidos; em outras, ainda, podem nem sintomas aparecer. Enquanto em algumas a hidroxicloroquina trás bons resultados; em outras de nada adiantam. As certezas se foram, e o que nos restaram foram nossas apostas.
Mas, como apostar neste “Admirável Mundo Novo“? Em primeiro lugar, eu diria que com nossa intuição. Com aquilo que vem de dentro, com o desejo, com amor, com aquilo que, de alguma forma, nos move e nos faz sentido. Então, devemos abandonar a lógica e a razão? Nem tanto. Acredito que elas sempre serão válidas. Mas, até certo ponto. Pois aqui, neste mundo novo, ou melhor, nesta chegada anunciada de “Terra Dois“, como definiria o médico psicanalista Jorge Forbes, estamos vivenciando um lugar onde as contas não batem, onde dois mais dois não mais resultam, necessariamente, em quatro. Onde tudo parece mais incompleto e intangível. Onde nossos ‘buracos’ ficam mais evidentes.
O que, há algumas semanas era visto como um tanto ‘exagerado’ e fora da ‘realidade’, o que demoraria 5 anos, talvez, para ser aceito e incorporado por todos; hoje está salvando nossas vidas. Exemplos disso, são: as vendas online, os contratos digitais e os teletrabalhos. Aliás, se podemos fazer as coisas de maneira mais simples e fácil; se podemos não imprimir papel; se podemos otimizar processos de uma forma mais colaborativa; por quê, então, dificultar? Centralizar? Se deslocar? Desperdiçar? Se eu pudesse dar uma dica para esta resposta, somente com uma palavra ela seria: MEDO! Medo de perder o controle, medo de não saber fazer diferente, medo de arriscar com sua própria intuição (não com a dos outros, como nos famosos benchmarkings), medo de fazer diferente e de SER diferente, de se destacar e ter a possibilidade de parecer ‘ridículo’, ou até mesmo, de desbravar um caminho que não é o tido como ‘correto’ e conhecido.
Vale lembrar que “onde você só tem certezas, você não tem inovação“, como disse J. Forbes, em seu webinar para a Saint Paul Escola de Negócios. O aplauso sempre chega com um certo delay. Portanto, que consigamos ser pautados pelo nosso prazer e singularidade, por nossa escolha e responsabilidade, ao invés da obrigatoriedade por si só. Que a cada dia que passa, nós consigamos converter esta angústia, que paralisa; naquela, que serve como combustível para criar uma nova forma de viver.
Texto originalmente publicado (em formato resumido), na Gazeta de Piracicaba, em 21 de maio de 2020.
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