Beatriz Frias
É evidente que a origem da palavra decoração é derivada do decor, ou seja, da arte de decorar. Mas também é nítido que, quando decoramos os ambientes, ou mesmo, nossas vidas ‘de-coração’, tudo fica mais bonito!
O que acontece é que, na maioria das vezes, as pessoas querem decorar a vida pautadas na “grama do vizinho”, ou seja, se inspiram tanto nos outros que acabam esquecendo de ouvir seu próprio coração, sua intuição.
Não é a primeira vez que toco neste assunto e reitero, aqui, que nossa inspiração maior sempre é aquela que vem de dentro de nós mesmos e, na maioria das vezes, pode até não possuir um motivo racional, mas, ainda assim, é a nossa singularidade perante o mundo.
Já perdi a conta de quantos momentos certas pessoas já me questionaram qual pessoa ou qual marca ou o que quer que seja que me inspire e, no final, eu não soube responder. Por que? Porque, simplesmente, me inspiro no diferente e o diferente ainda não existe. Daí a possibilidade de inovar e criar uma nova maneira de fazer as coisas, bem como a própria vida.
Até é aceitável que a moda dite um pouco as regras das aparências em geral, entretanto, até certo ponto. Que graça teria viver a partir de um rótulo? Acredito que nenhuma. Aliás, cabe aqui acrescentar uma frase que escrevi dias atrás: “E que os rótulos fiquem restritos aos alimentos. As pessoas são (ou deveriam ser) mais do que isso...”
Há quem viva para rotular todos e todas e há também quem goste de viver neste “quadrado”, até mesmo pela comodidade e para se ‘encaixar’ em algum determinado grupo. Mas acredito que se despendermos nossa energia para realizar nossos sonhos e desejos ‘de-coração’, certamente estaremos dando um passo além disso tudo.
Conhece aquele músico que toca seu instrumento com a alma, o artista que consegue inscrever todas suas emoções em uma obra de arte, o atleta que acorda todos dias para treinar ou mesmo aquela cozinheira que prepara a comida com tanto amor? Isto tudo pode não ser a arte de decorar, mas ainda assim, certamente, é ‘de-coração’.
Como exemplo, nestes últimos dias, fui ao concerto da Orquestra Sinfônica de Piracicaba e o repertório foi o Concerto de Tchaikovsky para violino. De olhos fechados, Daniel Guedes, o solista, conseguia extrair do seu instrumento o mais belo som. Ele contagiava o público, repercutindo a sua própria música interior através do violino. Um verdadeiro espetáculo.
Vale aqui citar outro exemplo: conheci há pouco tempo a sobrinha neta de Tarsila do Amaral, um dos grandes ícones da arte moderna brasileira. Apesar de já saber que a pintora foi sempre um passo à frente no mundo artístico, ficou muito claro de como ela teve que ser autêntica e confiante, numa época super tradicional, para dar continuidade em seu trabalho.
Tarsila escolhia as cores de seus quadros não porque era a tendência da época, aliás, muito pelo contrário, muitos achavam ‘cafona’. Porém, ela utilizava as cores simplesmente porque gostava, vinham ‘de-coração’.
Assim como a grande pintora modernista encontrou seu estilo na arte e o violinista, em sua música, nós também podemos buscar, lá no fundo, nossos próprios estilos, nossa arte e nossa própria forma de viver.
Artigo publicado originalmente na Revista ARRASO | Design & Decor * edição n.53 *
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